Doce Amor


“Casal estranho aquele... Um animal e uma puta”.
Era o que diziam da gente. E claro... Estavam certos.

— Você é um duro mesmo! Nem de sábado compra alguma coisa e me tira desse fogão?
— Sua boceta não reclamou ontem à noite. Nem sua saída de merda enquanto eu pilava o que sobrou do almoço.
— Puta que pariu, mas é um cavalo mesmo.
— Vou tomar como elogio.
— Grosso
— Puta!
 A partir daí eu a encurrava, se possível de pé como uma boa égua, dava uns tapas no rabão até deixar vermelho e dormíamos esquecendo o almoço; ela toda melada e com as pernas sujas com um pouco do que saía (hehehe, sacou né?) e eu bêbado, como sempre. Nossa relação foi esse favo de mel apodrecido até que um policialzinho de bosta mudou para o apartamento de frente ao nosso. Merda certa. Era óbvio como é óbvio que na primeira transa de um garoto ou ele engravida a puta ou pega gonorréia. Eu nunca soube o que um cara de banho tomado como ele fazia ali. E o nome então? Edílson. Puta que pariu. Isso é nome de polícia? Edílson é nome de traficante ou de jogador de futebol, no muito... 
Bom, o importante é que o dejeto da décima segunda DP acabou caindo bem na frente do meu apê que fedia urina, bosta e repelente de mosquito. Acho meio veado chamar apartamento de apê, mas vou me dar a esse luxo pra escrever menos. Continuando... Foi numa sexta; no dia em que ele chegou ao prédio que eu tive uma briga feia com a Sweet (Acho que e assim que escreve, esse era o nome que eu a chamava quando estava doidão e devia significar "doce"; e de doce aquela safada não tinha nada. Só o rabo mesmo).
A Sweet não era mulher de um homem só e nem eu queria isso. Mas queria aquele anel de carne como pouca coisa nesse mundo, qualquer homem com um pau capaz de ficar ereto gostaria dela. Aquele cu moveria mais montanhas que a fé de um santo. O policialzinho de bosta viu isso também. Ficou encarando minha pequena puta logo que a viu. Eu estapeei a bunda dela na frente dele para desestimular, mas acho que a barulheira da foda seguinte acabou excitando o homem. A Sweet gritava feito uma gata no cio. Vagabunda e gostosamente. E eu gostava; droga, eu amava.
Como sempre — depois da transa que estimulou o Edílson —, depois de desamarrá-la e limpar um pouco de todo aquele suor e secreção que nos lubrificava, partimos pra outros lances.
— Me dá esse troço vai!
— Calma porra! Quem vai cheirar agora sou eu!
— Tá sendo egoísta, nêgo!
— Eu posso. Te banco, não é? Quem comprou essa porra de pó? — Ela era orgulhosa demais para responder. Acho que não era só isso, tinha interesse atrás daquela mansuetude. Ela queria mesmo era me manter pianinho para rachar o pó.
— Deixa pra mim, vai...
— Porra, Nora! (esse era o nome dela que eu usava quando estava puto) Cheira essa merda logo.
Era um aspirador. Nesse lance de droga eu sempre me ferrava. O nariz de aço da Sweet arregaçava com o meu. Ela cheirou até perder o pouco da noção que tinha. Quando eu vi aquele nariz de palhaço sangrando melado saí de perto; resolvi dar uma mijada. Quem sabe ela morria no processo e parava de me encher com toda aquela asneira feminista que sempre soltava quando entrava em “alfa”. Eu a amava, mas odiava seu feminismo que era bem mais apaixonado do que ela por mim.
Antes de mijar dei uma cuspida na cabeça do “mininão” sei lá por quê. Senti queimar na hora. Depois ficou meio... Anestesiado. Eu ri pra caralho. Tentei socar uma ou duas punhetas, mas meu pau-divino tava mais morto que vivo. Eu ri mais. Calças arreadas e nariz entupido com farinha. Ri até perder o ar.
— Tá fazendo o que aí? Vem me comer, porra! Quero te dar enquanto tô doida!
A Nora tava querendo rola; foda isso. Parece que a mulher percebe quando o cara não tá nos seus melhores momentos. Saí do banheiro com o diabo no corpo (menos no pau).
— Deixou pó pra mim?
— Vem cá, pintudo! Mete essa rola fedida "ni mim".
— Porra, mulher?! Cheirou a coisa toda? — disfarcei.
— Vem me comer, vem.
De repente eu estava fervendo de raiva. Meu pau não iria subir, a coca-sem-cola tinha acabado e ela não tinha se raspado. Odeio cêta peluda. Mais que isso. Tenho medo. Sei lá... Trauma de infância de quando eu vi minhas tias horrendas peladas e gordas. Aquilo parecia uma boca bigoduda com dentes faltando e uma língua enorme. E cheia de baba. Eu não aguentei e explodi.
— Vai toma no cu, Nora! Essa boceta tá parecendo um texugo! Porra; não ponho meu pau aí dentro; nem fodendo.
— Ou você me come ou vou embora.
— Só se for o cu — tentei. O cu era peladinho. Sei lá por que, mas nunca tinha pelo no anelzinho da Sweet. Eu adorava aquele cu. O bicho era até cheiroso.
Ela levantou e partiu ofendida pra cima de mim. Louca de pó e de tudo.
— Não! É a boceta ou nada! É aqui que você vai meter! — apontou para a caranguejeira.
— Não vou por meu pau aí!
— Broxa! Seu veado de merda! Aposto que comeu a puta da sua mãe e pegou nojo.
— A dela era mais limpa!
Aquilo foi demais até pra Sweet. Ela vestiu a mini-saia e saiu socando a porta. Eu tinha alguma erva em casa e resolvi me acalmar. Fiquei deitado no sofá assistindo alguma coisa que me fazia rir na tevê e bebendo rum. Em minutos alguma alma sem noção começou a espancar minha porta.
— Quem é o corintiano que tá me enchendo o saco?
— Polícia — gritou o visitante.
— Quem?
A polícia não me visitava nem a ninguém do bairro de merda, talvez visitasse a casa do Midnight, um gigolô amigo meu que morava com suas putas no primeiro andar, no muito. Foi só aí que eu percebi do que se tratava.
— Sou eu, seu desgraçado, achei alguém pra comer o que você não quis e quero minhas coisas.
Era a Nora, Sweet, a puta, minha amada, a mulher que fazia meu mundo girar de prazer ou nojo. Claro que abri a porta. Antes dei outra golada no Bacardi que me divertia e me livrei do baseado.
— A moça aqui disse que você bateu nela.
— E cê tá aqui pra me prender? — Sorri.
A resposta foi um chute no meio do meu saco. Senti as duas bolas se dividirem e subirem até minha garganta. Perdi o ar e fui de joelhos pro chão. Olhos molhados, boca seca.
— Era só dizer não — pedi.
Outro chute, dessa vez na boca, me deitou. Dali em diante eu não disse mais nada e estava tão louco que depois do quinto chute comecei a ter algum prazer. A Nora gritava de tesão enquanto o merdinha me surrava. Senti minha boca com sangue vindo de algum lugar de dentro, pensei que pudesse ser meu baço estourado. Ou o estômago. Eu só tinha medo do apêndice, não queria morrer todo cheio de merda no sangue. Já tinha um pouco de tudo no meu sangue: álcool, pó, nicotina, maconha, cola, ácido, papel higiênico com Quick de morango e água pra enganar a fome, mas merda? Merda não... Merda era deprimente. Eu estava morrendo de tanto apanhar. Contei dois dentes que acabei engolindo, depois fiquei aproveitando as endorfinas. Vi isso num filme. Acho que é esse o nome, é um tipo de droga que nosso cérebro produz; cara, aquilo era melhor que um pico.
— Para Edílson! Tá matando ele!
Mas o Edílson não parava, quando ele cansou de me chutar, me montou como a nora fazia quando queria gozar e me espancou com os punhos que ele amarrara com uma faixa de couro. Direita, esquerda, frente, no olho, nariz... Eu estava parecendo um pudim de sangue. Pensei nas surras que levava do meu pai enquanto apanhava. Pensei que podia ter aproveitado mais. A dor era boa depois um tempo. A gente se acostuma. Eu ria pro Edílson com alguns dentes a menos e com todo aquele sangue por cima; ele continuava. Pensei em dizer que tinha Aids só pra ver a cara dele, mas desisti. Tinha essa piada velha de um estuprador que caiu na cadeia e disse que tinha Aids pra não ter seu cu arrombado. O manda-chuvas do presídio então assovia e chama um negão chamado Borracha. A estátua de ébano também tinha Aids e um pau que faria John Holmes ter vergonha... Pobre estuprador; ganhou a Aids que tinha inventado e uma reconstrução Anal.
— Pare ou vai matá-lo! — gritou minha putinha mais quatro ou cinco vezes.
E veio o estouro.
E sangue que não era meu caindo no meu rosto.
E... Era o que me faltava.
— O que você fez, minha flor?
A Sweet estava tremendo com o berro do PM na mão. Ela tinha aberto um túnel na cabeça dele. A bala saiu pelo olho direito que ficou parecendo um cu arrombado. O sangue estranho espargido em mim veio dali.
— Eu não podia deixar ele te matar, eu te amo e...
— Fe-cha e por-ta, flor-z-inha. — Eu estava com a boca tão estropiadamente fodida que mal compreendia o que dizia, mas a Sweet entendeu. Obedeceu e enfiou um pouco de pó (que ela tinha escondido) no meu nariz ; safada. Imediatamente me senti renovado e capaz de tirar a carcaça do Edílson de cima de mim. Rolei o corpo pro lado e tomei fôlego. O pó fez bem e desobstruiu o sangue que empapava meu nariz.
— Eu não podia deixar ele... — repetiu.
— Vem cá vem minha florzinha.
Transamos como dois coelhos por horas. Só paramos porque o corpo do Edílson começou a esfriar e esbarrar na minha perna. Depois fumamos um cigarro e eu saí levando aquele rabão gostoso da Sweet para comprar mais alívio para o dia tenso. Tinha que ter a cabeça boa pra resolver o que faria com o Edílson. Pensei em por fogo nele, em picá-lo em pedacinhos. Talvez o deixasse lá em casa e sumisse no mundo.
Nada disso importava.
Só o que importava era que a Sweet me amava.
E eu a ela.  



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