Dia seiscentos e noventa e sete.
Estou de novo em algum buraco
no meio do nada. Não reclamo sabendo que é isso o que Deus quer. Pelo menos,
parece. Como todo mundo eu também não falo diretamente com ele. Eu apenas vejo
seus sinais e os demônios. E tento me manter vivo desde que eles me
descobriram. Isso já faz dezoito anos, eu tenho quarenta. Não costumo falar
muito de mim, mas pensei em escrever sobre isso. Provavelmente para me
recuperar dos dias deploráveis que tenho. Detesto perder uma briga, ainda que
tenha quando saio andando e o outro não. Não existe vitória completa quando de
lida com o demônio.
Precisamente às cinco da
manhã, abri meus olhos, tomei uma dose dupla de conhaque, acendi um cigarro e
rezei um pai nosso. Depois tomei meu café, — que é café turco sem açúcar e restos
do que sobrou do jantar; geralmente pizza ou uma gororoba qualquer. Banho não
tomo quando estou em missões. Não preciso, visto que Deus não se importa com o
meu cheiro e sou solteiro. Sou um sacerdote e sei que os mais poderosos se
furtam de ter uma mulher. E eu preciso ser poderoso ou estaria morto antes do
meio-dia.
Mais em www.amazon.com.br (digite "Cesar Bravo")
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