A parte que falta (crônicas bestiais)


O ar começou a cheirar carne queimada de novo. Meus olhos doem depois de quatro noites em claro e eu não consigo ouvir nada depois da última explosão. Agradeço por isso ou teria continuado atormentado com o som das crianças gritando. Elas sempre são a pior parte de uma guerra. Essa aqui não é diferente. É apenas mais uma palhaçada de confronto entre o bem e o mal. Mas minha raça sendo a causadora da desgraça toda, sabe que não existe essa coisa de... Dualidade.

O bem é o sexo e o mal o estupro e de repente você descobre que te levam para o mesmo lugar se  relaxar. É questão de ponto de vista.

Como foi o meu em abrir a porra do um tórax enfiando bobagens em aramaico lá dentro; pensando que teria respostas.  Não era para dar nisso. Não assim. Percebi logo que o demônio não cumpre suas promessas. Até cumpre, mas é do jeito dele. Foi assim comigo. Como a piada do cara que queria ter um pau tão grande que arrastasse ele pelo chão e teve as pernas cortadas na cocha. É assim que ele age; mudando seus pontos de vista.

O vácuo que toma conta de meus ouvidos é agradável. Quando fecho os olhos lembro do mar. Isso foi antes de deixarem-no cheio de sangue. Bem antes das chuvas de gafanhotos e das mulheres transformadas em esfinges. Não aquelas bonitas que você imaginou...

Esfinges com cabeças mortas, olhos brancos e dentes afiados como suas garras especializadas em decapitar os homens. O pó que sai de suas asas negras começou a cegar as pessoas. Quando descobrimos estavam quase todos cegos. Eu continuo encostado na parede. Daqui consigo ver tudo. Graças à miopia que eu detesto. As lentes grossas me mantiveram longe do pó das esfinges, mas não sei se sou grato a isso...

Eu vi quando a primeira cabeça foi arrancada pela cauda de uma esfinge. Foi a primeira e única vez que vi uma delas errar o bote com as garras. Ferdinan era o cara. Agora ele é só mais um corpo sem cabeça (que tinha um nome gay) apodrecendo no chão. Não descobrimos ainda por que elas levam nossas cabeças. Achamos que é para alimentar suas crias. Enormes hominídeos estupradores que aos poucos substituem a raça humana. Eles adoram um buraco cara, e é por isso que eu permaneço com a arma carregada. Quando eles te pegam por trás alguma coisa cresce dentro de você. Outro deles. Apesar de não precisarem copular entre si eles precisam de nosso corpo como incubadora. Não é nada relacionado a essa porra toda de alienígena. É pior.

É a parte da Bíblia que ninguém mostrou para Roma. A parte mais negra. A que dizia que o demônio perderia, mas só depois que o homem fosse exterminado. Hoje percebemos a realidade. Somos um vírus e o apocalipse é a porra do soro que cura. O planeta irá sobreviver, bem diferente dos homens.

A sirene está tocando de novo. O cheiro de carne assada aumenta. Sangue entra por debaixo da porta do Bunker. Eles chegaram e eu não sei se prefiro enfrenta-los ou usar minha ultima bala no tambor.   



  

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