Passional



1

Disseram que a casa estava cheia de sangue. Toda ela. Os vizinhos perceberam logo que algo estava errado naquela discussão, mas como usualmente faziam não se intrometeram. Não era esperto interromper uma briga daqueles dois. Cada um com seu cada um, hã?
Sabrina era o nome dela; ele era um amigo meu: Augusto.
O homem da casa costumava trabalhar em um supermercado da cidade, ela em um hospital. Parecia um casal feliz na maior parte do tempo, mas quando brigavam... Deus; era como se fossem matar um ao outro. Segundo a vizinha da frente que monitora cada passo do quarteirão a situação piorou depois que o Augusto perdeu o emprego. As agressões entre a mulher que não agüentava mais vê-lo em casa e ele — que não a aguentava mais reclamando — tornaram-se insustentáveis. Chega um ponto que todo casamento acaba, principalmente um conquistado na briga como fora o dos dois.
Meu nome é Estevão. Como disse sou amigo do Augusto. Ou pelo menos era... Ele costumava ser um cara legal. Antes de Sabrina massacrá-lo com exigências.
A garota podou dele o que tinha de melhor. Desconectou-o de sua antiga vida, se intrometeu em sua casa e quando nós achávamos que o pior tinha passado ela começou a afastá-lo da gente. Lembro das primeiras discussões quando ele ignorava a megera e corria para o consolo do bar. Isso foi bem antes dela, da mãe e da avó que eram as três mulheres que tentavam mandar na vida do Augusto mostrarem suas garras (sem contar a pior amiga da Sabrina que trabalhava junto com ela, do hospital). Eu vi tudo bem de perto convivendo com o cara. O Guto não era do tipo calado ou introspectivo, ele costumava ser um cara leve antes da Sabrina aparecer. Um cara sem muitas ambições ou responsabilidades que gastava meio salário com bebidas e cigarros como resto de nós. A fulaninha não. Era ultra-responsável, mandona e filha de um pai que cagava e andava para ela. Naturalmente tinha uma raiva intrínseca de qualquer coisa com duas bolas. Augusto não percebeu de inicio e se deixou enredar. Pobre homem.
A fulaninha, como quase todas as fêmeas, tratou de agradá-lo no começo. Bem no comecinho. Ela frequentava as nossas festas. Parecia divertida; ria pra caramba, e até mesmo nosso conluio de machos resolvidos conseguiu iludir. Todos gostavam dela. Quando a “Sá” convenceu o “Guto” a parar de fumar gostamos mais ainda. Ele fumava demais; bebia demais também. No começo pareceu um milagre uma garota bonita daquelas se interessar por um traste feito ele. Éramos todos, como eu disse, beberrões inconsequentes. Nós continuamos na mesma; ele não. Pelo que eu sei da história dos dois, o casório foi meio que... comunicado a ele. Já moravam juntos na época. O cara estava com tanto medo de perder a Sabrina que concordou. Sob protesto, mas concordou. Abortou mais meia dúzia de sonhos com isso, mas não achava mesmo que conseguiria realizar alguma coisa depois dos trinta. Ele andava meio deprimidão uns tempos antes de se ajoelhar no altar. Logo depois do “sim” se afastou da gente, da família dele e da dela; de todo mundo. Cheguei a pensar que ele estava doente. Lembro bem de nossa última conversa. Foi logo depois da penúltima briga deles. Ele me ligou pedindo uns minutos de conversa e eu fui. Para o bar de sempre. O cara transpirava raiva. Nunca tinha visto o Guto assim.

2
                                                                                             
— Cara, preciso largar essa mulher antes que eu faça uma cagada.
— Que foi dessa vez? — perguntei. A cara dele não era das melhores. Tava de olhos vermelhos, não de choro; de raiva. A boca seca era outro indicio que ele estava à beira de um colapso. Ele estava enlouquecido; furioso seria pouco para expressar aquele olhar. Olhos doentes.
— Aquela filha da puta.
— O que ela fez agora cara?
— Tá difícil lá em casa. Ela é uma mulher ruim cara, . Cê não faz ideia.  
— Luizinho; traz uma gelada pra nós — pedi. Tem assuntos que só descem com cerveja. Aquele era um desses. Com cerveja ou coisa pior, tipo: pinga, gasolina ou outro combustível qualquer.
Enchi os dois copos. Até o Luizinho que era dono do bar percebeu que ele tava estranho. Sem que o Guto percebesse fiz um sinalzinho pro Luiz nem perguntar nada. Meu amigo estava precisando de bons conselhos e o Luizinho não era o tipo certo pra isso. Ele gostava muito mais de jogar pólvora do que de apagar fogo. O Guto tremia de raiva. Dava pra ver cerveja caindo do copo dele, sujando a mesa de lata.
— Tem um cigarro aí?
— Pô cara, você não parou com essa merda?
— Parei, mas quero chegar fedendo em casa. Quero provocar aquela ordinária.
Eu ri e estendi um Marlboro para ele. O cara tragou rápido. Demorou três puxadas pra chegar no filtro. Depois de dois anos sem fumar eu esperava que ele tossisse ou coisa parecida. Nada. O cara estava faminto por nicotina. Eu acho que ele estava com fome de um monte de outras coisas além do cigarro. Ele estava triste, gordo, desarrumado. O Guto era um cara vaidoso, do tipo que sempre pegava mulher. Agora parecia um velho reclamando dos domingos perdidos assistindo a globo. Coisa da Sabrina também isso de querer obrigá-lo a assistir a programação da TV queela gostava. Eu via pouco de meu amigo no cara a minha frente virando copos de cerveja feito água.
— Conta aí Guto, o que foi dessa vez?
— Quero me separar dela. Vai dá merda lá em casa.
— Mas o que ela fez de tão grave? Mulher é complicada mesmo cara; todas são. Depois você troca e se arrepende.
— Ela é pior, Tevão (esse é meu apelido)... É interesseira. Fez o que pode para casar com o idiota aqui, se instalou na minha casa, e agora me trata feito uma porcaria de homem. Com esse negócio d’eu ficar em casa sem trabalho tá foda. Tenho medo de perder o juízo e resolver as coisas na pancada.
— Mantém a cabeça fria cara, violência é tudo o que ela precisa pra te complicar. É perigoso esse lance com mulher. As filhas da mãe podem falar qualquer merda para você, mas irmão, se você desarrumar o cabelo delas, elas te metem na jaula. Fora que te levam cada centavo junto. Essa mulherada de hoje é trevas.
— Cê acredita que ela agora deu de jogar na minha cara que cozinha e faz compra lá em casa? Cara, eu pago todas as contas: água, luz, telefone, imposto, seguro, internet, Tv a cabo, telefone e o caralho, e ela ainda reclama. Já fiz as contas, eu gasto duzentos paus a mais que ela todo mês a ainda ouço desaforo. Com essa grana eu pagava uma faxineira e ia ter a casa brilhando, diferente do jeito que anda. E ela diz que limpa; limpa o cacete. É muito foda aguentar tanta porcaria de boca fechada.
— E você?
— Mandei ela enfiar na bunda a comida e o resto da casa. Cara! Se não fosse por mim ela ainda tava morando lá com a mãe dela e pagando quietinha metade das contas da velha. Aceitei ela dentro da minha casa, casei; pra quê? Pra ouvir merda?
— Se já tá assim é melhor pensar mesmo... Pode dar pancadaria... Eu nunca te vi tão bravo — eu disse. Nunca tinha visto mesmo e olha que eu já tinha visto o Guto brigar na rua umas quatro vezes. Ele tava querendo dar o troco nela de qualquer jeito.
— Pensar em quê? A safada recua quando eu falo em divórcio, eu não tenho um puto para gastar com advogado e se gastar, babau meus livros.
Esqueci de contar essa parte; ele escreve. Um dos motivos da lama que jorra na casa do Augusto. Além disso, o cara é insatisfeito com... Digamos... “A vida como ela é”.
Os pais do Guto eram do tipo opressores e ele era cuca-fresca. Achava que sempre teria tempo para tudo. Até ode eu sei, ele tem um diploma guardado na gaveta. Ninguém sabia direito sua formação, mas sabíamos que ele detestava contar para alguém que era “doutor” em alguma coisa. Ele deixou escapar uma vez que o pai ameaçou acabar com a raça dele se não fizesse a tal faculdade. E ele fez... Se drogou por quatro anos, arregaçou com o fígado e assim que pode engavetou o papel como se estivesse sujo com merda. O Guto era assim; misterioso. Eu que era bem mais próximo dele sabia que o cara gostava mesmo era de escrever. Passava horas matando serviço e enchendo um bloquinho dele com anotações. Se não me engano ele tinha já dois ou três livros que não conseguia publicar. Foda isso. O cara se mata pra escrever e o papel apodrece na gaveta. Ele tem um site também. Já li o que ele escreve. Terror. Dá um pouco de coceira no estômago de ler tanta violência, parece que a gente fica puto junto, mas tem gringo faturando alto com coisas bem piores que as dele.  
— Cara, e esse lance do livro?
— É por isso que eu tô maluco de raiva, Tevão. Nunca precisei da Sabrina pra nada. Ainda não preciso, mas o fato d’eu tá em casa, tá deixando ela retardada. Acho que é inveja. Sabe como é... Eu posso e ela não, eu tenho grana guardada e em vez de gastar com ela, gasto pra me manter escrevendo. No fundo tudo se resume ao egoísmo da desgraçada. Maldita — xingou.
— Cara, será que é só isso? Ou será que ela tá incomodada por tá ralando lá fora e ainda cuidando da casa com você “parado” lá dentro?
— E eu com isso, Tevão? É a parte dela cara! A parte que ela pode pagar, mas cê pensa que ela faz isso? Faz nada! Ela só sabe é reclamar. Bicho, vô te falá a real. Eu casei com uma porra de uma princesinha que acha que o mundo todo tem que fazer o que ela quer. Enquanto era eu quem chegava desbarrancado de cansaço em casa tava uma maravilha. Agora que eu tô cuidando do que é meu? Do meu livro e tentando viver de verdade, dá nisso. Ainda tem o lance do filho.
— Ela tá grávida? — perguntei meio engasgado com a Brahma. Ficaria felizão deles estarem esperando um bebê, mas naquela condição foderia com o resto do Guto. Eu acho que se ele tivesse que desistir de mais um projeto seu acabaria morrendo. Ou se matando.
— Não. Ainda não — ele respondeu me aliviando.
— Vocês estão tentando?
— Nem cara... Nem... Eu não quero pensar nesse assunto. O lance todo é o seguinte: ela tá obcecada pra ter filho. Todas as amiguinhas imbecis dela já têm; a irmã já tem... É foda. Inveja de novo, sempre isso, sempre ela tem que ser melhor que todo mundo.  Parece que tem tesão de competir com os outros.
— E você quer? Um filho?
— Eu até queria cara, mas a Sabrina não cuida nem da porra do nosso cachorro! E quando faz ainda joga na minha cara. Não dá não bicho, essa mulher não tem preparo para isso. Nem grana. É em outra coisa que ela é especialista: em torrar grana. Agora tá toda puta porque comigo em casa a conta dela aumentou... Pergunta se ela pensa em trabalhar mais? Pensa nada. Véio, ela trabalha de segunda a quinta e reclama!
— Mulher é assim mesmo cara, elas querem um provedor, saca? Alguém que viva em função delas...
— Eu aceito muita coisa, mas falsidade você sabe que não. Cara, essa mulher fingiu ser outra pessoa. Lembra dela no começo? Como ela era legal com a galera? Metida a roqueira? Tinha neguinho até querendo roubar ela de mim. Agora parece uma tia...
— Lembro sim — respondi rindo.
Tinha gente do bando interessada nela mesmo. O Guto resolveu logo quebrando a cara dele. Acho que ele se soubesse que teríamos essa conversa de hoje teria doado ela pro Alê sem reclamar (e sem aceitar devolução, obviamente). 
— Quero me separar. Acho melhor pra nós dois.
— E o lance do custo? Teu livro...
— Foda-se cara. Longe dela vai ser melhor até pra isso. Ela não vai me deixar terminar e se a cascorenta disser mais uma vez; se ela insinuar mais uma única vez que eu sou algum tipo de vagabundo eu não respondo por mim.
— Cabeça fria Gutão! Não vai fazer nenhuma besteira — eu disse. — Você sabe que não é nada disso. Você tá escrevendo e não desocupado Ignora ela e boa... Bola pra frente.
— Já fiz besteira quando casei com uma desconhecida. Nem na cama conheço mais.
A noite continuou com a gente rindo um pouco. Ele matou meu maço cheio e metade de outro e tomou quatro litros de cerveja. Saiu melhor do que chegou, mas eu suspeitava que Sabrina daria um jeito de devolvê-lo ao nívelpsicopata. Talvez não naquela mesma noite, mas acabaria fazendo isso. Eu sabia que ele também não era o que Sabrina procurava. A família da Sabrina era toda certinha, as pessoas desistiam da vida por volta dos trinta. Daí em diante era só filho, engorda e saidinha de velho. A irmã dela também era casada, já tinha dois filhos bancados pelo sogro, a mãe que se achava a miss independência não sabia educar as próprias filhas e botava a culpa no velho que picou-a-mula de casa. Era o oposto da família do Guto. Não que a dele fosse boa coisa, mas no quesito “casamento” estava muito melhor. Possivelmente por terem desistido de dobrar o homem da casa e o mantido por lá.

3

O Guto continuou sumido. A gente só encontrava com ele de relance; naquelas passadas rápidas pela rua. Quem o viu e falou com ele disse que estava mais diferente ainda. Começou a expor no site idéias de assassinato, raiva, fúria, contrariedade de estar vivo. Parecia que ele estava esperando uma desgraça. Eu acho que ele cansou de esperar e fez sua própria. Numa de nossas conversas ele disse que se tivesse que voltar para o mercado de trabalho e lidar com a Sabrina provavelmente ele mataria um chefe ou ela. O pessoal da mesa riu, mas ele não. Caras quietos como o que ele estava se tornando, não costumam rir das próprias insanidades. Ele estava acomodando a pólvora dentro de si. Minuciosamente comprimindo e esperando pela explosão. O pavio se chamava Sabrina.


4

Agora eu estava com um jornal nas mãos para saber o que ele tinha feito. Tive a impressão que se apertasse esguicharia sangue. Peguei o papel pichado de chumbo, respirei fundo a coloquei nas páginas policiais. Não pouparam detalhes naquela edição. Guto havia matado não só Sabrina como sua melhor amiga.  Não apenas matou... Ele as torturou.
Cortou a língua das duas e alguns dedos de Sabrina, perfurou as orelhas da esposa e as recheou como um frango assado. Encheu a Sabrina com cebolas; cada buraco dela exceto a boca.. Eu sabia por que... Ele colocara gafanhotos em sua garganta em vez de cebola. A amiga ele apenas fatiou em porções menores e dividiu os pedaços entre a máquina de lavar roupas, a de louças e os três vasos sanitários de sua casa. Ainda faltavam algumas partes. Depois de tudo pronto ele ficou sentado e fumando. Encontraram uma garrafa de Whisky com ele e um bilhete de despedida. Ainda não sabiam o veneno que ele usara, mas demorou quase a noite toda para matá-lo. 
Quem descobriu o corpo foi a empregada que ele contratara para tentar salvar o casamento falido. Parece que no final ele pensou melhor. Não tem como recuperar fruta podre. Melhor usar pra adubar e terra.
Eu não sei se vou a policia falar do que eu sei, provavelmente não. Não gosto da raça e acho que o Guto não ia querer que eu desvendasse seu quebra-cabeça final. Ele se amarrava nessas coisas que escrevia e eu em tentar interpretá-las. Para quem conhecia aquele casal além das festinhas sociais movidas a aperitivos e fingimentos, estava fácil de matar a charada (desculpem o trocadilho pobre).
A Sabrina detestava cebola. Mesmo se tivesse um único pedacinho diluído nos temperos ela quase vomitava. Ele a encheu toda com isso. Penso eu, que para mostrar que ela teria que engolir algumas coisas que não gostava; ainda que fosse morta. Os gafanhotos eram pelo mesmo motivo e para dar um toque de crueldade a mais. Ela tinha pânico desse inseto, mesmo seu barulhinho agudo causava tremores nela. Jesus! Que vingança! Os policiais disseram ao jornal que ela morreu sufocada, ou seja, ela estava viva quando todo o resto aconteceu. Morreu mesmo foi com o meio quilo de gafanhotos que ele comprou na casa de rações. Tem um cara aqui na cidade que vende, eu que dei o endereço para ele. Não que eu me sinta culpado por isso... Tenho dó é do Guto nessa porcaria toda.
O lance da língua? A amiga?
Essa amiga era uma megera que trabalhava junto com ela no hospital. Não bastasse a mãe, a avó e a própria Sabrina enchendo o saco, o Guto ficou sabendo dessa garota. Era uma filha da mãe, casada com um babaca e amante de um cardiologista. Seu passatempo preferido era fazer a cabeça fraca da Sabrina pra foder com o marido. O tipo de mulher que quer arrastar alguém pra merda só pra ter companhia. Ele logo ficou sabendo pela própria Sabrina que deixou escapar alguns conselhos. Cada vez que a esposa dividia turno com a vagabunda, pior era o dia seguinte na casa do Guto. Acho que fatiar a amiga foi mesmo só pra dar um tempero e pra fazer a Sabrina entender quem é que mandava naquela casa. Sinceramente não acho que foi coisa machista, e a casa era dele pô. A única machista ali era Sabrina. Ela sim queria ser paparicada como uma virgem pelo marido, queria ter uma empregada. Queria ser uma mulher dos anos trinta sustentada pelo marido e com uma penca de filho pendurada nas tetas caídas.
A língua é meio óbvio... As duas falavam demais. Se mais gente fizesse o que o Guto fez haveria uma lei contra pessoas que falam pelos cotovelos. A orelha que ele estuprou com um fuzil de amolar deve ter feito Sabrina ouvir melhor assim que o sangue coagulou. Ele também fez questão de cagar em cima da cabeça decepada da colega que ele jogou no vaso. Em cima ainda descartou a cabeça de uma bonequinha que ele detestava; presente da sogra. Acho que ele não quis matar a velha e acabou dando só um recado antes de ir.
Os dedos decepados de Sabrina foram os dois anelares. Outro recado para os que pretendem assumir um compromisso mais sério. Ele descobriu bem do que se tratava esse lance de noivado e casamento. No noivado a mulher te engana, dá pra você todo dia em posições que uma acrobata não faria; você acaba achando que ela terá uma puta grátis a vida inteira e se casa. Depois disso você se depara com uma pedra de gelo seco na cama e pensa melhor, mas você já está amarrado. As acrobacias que você vê agora são as da língua de sua amada esposa que não para de crescer (e ela não usa dessa habilidade como deveria; não senhor...). A língua cresce como o corpo dela que em vez de foder passa a comer. Você está tão ferrado financeiramente com o que gastou com a cerimônia e com aquela estúpida lua de mel que só te deu desgosto, que resolve tentar mais um pouco. As famílias começam a invadir sua casa. A dela e a sua. Ela muda e você muda. A pressão aumenta enquanto o dinheiro diminui. Ela arrasa com seus amigos e você arrasa com ela como pode pra dar o troco. Depois disso você tem suas saídas: Se divorciar ou matar alguém. O Guto escolheu a segunda.

Colocaram a porcaria do bilhete suicida dele no jornal da cidade:

"A gente sempre tem o que merece; obrigado por me convencer que sou um nada. Um nada não perde. Nunca.
Com ódio
Guto.
(Não sei se vou pro céu ou pro inferno, mas o que eu devia? Paguei em vida)".


Fim



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