O pregador de fracassos


É um homem comum, de terno e gravata, voz macia e dono de um olhar penetrante. Ele é quem traz o veneno da realidade até seus ouvidos. Faz-te desabar em lagrimas e mesmo na vitória faz com que ela lhe pareça tão pequena e breve que a torna descartável. Sua alma treme perto dele mesmo que seu corpo nada pressinta.
Cochichos maliciosos são proferidos. Chamando-te de incapaz, inútil, velho, novo de mais e sonhador. Eu não acho que ser um sonhador seja algo ruim, mas ele te faz crer que sim. Faz você vivenciar o medo em cada movimento. Ele é a depressão e a culpa depois de uma noitada que você sabia ter o direito de desfrutar.
Ele é vinagre cara. Azedo e desinfetante.
Sabe aqueles dias que você simplesmente acorda achando que sua vida é um fracasso e que nunca, por mais que se esforce vai chegar a lugar nenhum? Que nunca você será tão bom quanto seus irmãos ou seus vizinhos? Ou seus pais?
Significa que transou com ele... Dormindo ou acordado.
Tenho medo de pouca coisa nessa vida como tenho dele. Do controlador dos mundos e das mentes. Esse cara é o pai da depressão. O criador de cinzas. Não pretendo culpá-lo, mas se você tivesse o tempo que eu tenho dedicado a busca de respostas reconheceria que a procrastinação não é obra do acaso. Essa apatia que se sente, as luzes que incomodam; até mesmo o sol que passa a ser uma maldita estrela que te queima quando ele está ao teu lado te mandando fechar a janela do quarto.
Duvide de Deus se quiser; do demônio, mas não dele. Não dessa coisa que se apossa de teus amigos para cuspir lepras em seus ouvidos. O fracasso tem seu timbre no carimbo, entre duas fênix para lembrar para mim e para você que ele nunca morre. Ele renasce das cinzas e leva um de nós junto a cada vôo rasante.
Nessa semana faz dezoito anos que eu enfrento essa besta. Exatamente o tempo que eu não consigo ser feliz. Talvez isso aconteça com você também e você disfarce a coisa toda com Rivotrils, Lexotans e Valiuns. Quem sabe um Cymbalta; hã? Um Revia? Se você for mais maluco ou se já estiver nas garras dele há muito tempo se meteu com drogas.
Quando você ouvir passos pela casa, não houver ninguém e de repente sua vida perder a razão de ser tenha certeza que ele está ao seu lado.
Você me pergunta: “Como combater essa coisa?”.
Ainda não tenho a cura, caro amigo...
Mas conheço bem a doença.
É ele... O cara elegante que finge dizer a verdade.




0 comentários :

Postar um comentário