— Você
não vai sair daqui e me deixar falando sozinha!
— Volta
aqui e me escuta.
— Fala
direito comigo.
— Você
é um idiota.
— Devo
ser mesmo. Casei com você. Fui.
Calcei meu tênis que foi presente dela e bati
a porta com jeito de machão. Como sou um merda quando cheguei na varanda tava
arrependido e pensando em voltar e ficar numa boa com a megera. Gastar um pouco
de suor na cama. Tava quente o dia...
A rapariga abriu a janela antes da decisão e
mandou:
— Vai
mesmo, filha da puta.
Depois bateu a porra da janela. Pensei que
não tinha ouvido direito. Não pela minha mãe nem nada... Eu mesmo já me chamei
de filha da puta, mas cara... CARA!
Não dá pra ouvir isso de uma mulher que você
caiu na besteira de casar. Entrei de volta e fui atrás dela, cuspindo vespa.
— Escuta
aqui, retardada. Do que me chamô?
— Do
equivalente às coisas que você diz (esperta pra caralho; bem mais que eu. Claro
que ela não ia repetir aquela merda e arriscar um soco na fuça...).
— Fala
de novo — insisti.
Ela ficou quieta. Mas eu não.
— Hoje
eu vou fazê com você as coisas que eu escrevo. Vô te fudê e arrumá uma mulher
de verdade.
— Escreve?
O quê? Aquele monte de bosta?
— É
bosta pra você.
— Você
é tonto mesmo — ela disse. — Tinha emprego, ganhava bem e agora fica gastando
dedo numa coisa que nem sabe fazê direito.
Fiquei com vontade de falar onde eu gastava o
dedo... Dentro de onde eu gastava o dedo e alguma coisa mais antes de encontrar
com ela numa noite de bebedeira. Mas fiquei quieto. Pequei a chave e fui até a
porra do carro que vez ou outra me deixava na mão. Pensando que a minha vida
era uma bosta e ela tinha razão. Claro que tinha. Não dá pra ficar se
desculpando por ser incompetente. E eu fui. Eu sou! E a não ser que o capeta
ouça minhas preces e aceite trocar a minha alma por uma porra de um livro eu
vou morrer sendo. A retardada ainda abriu a janela da sala e berrou um monte de
merda junto.
— Vê
se dorme na rua! Melhor ainda. — E pá com a janela na minha
cara.
“Puta que pariu”.
Claro que eu pensei em obedecer pra dar o
troco. Mas com a minha barriga campeão? Com meu senso de humor de judia no
chuveiro alemão? Não cara. Eu não comeria ninguém nem pagando... E nem queria.
Saí louco com o carro sem responder nada. E ele pelo menos não me decepcionou.
Eu exalava ódio pelos poros, o estômago corroído de tanto ácido e a boca
praguejando por não ser um gênio peidando dinheiro. Enchi a cara como era de se
esperar e no meio do porre, quando a cabeça voava solta como a porra de um
balão de hélio, lembrei-me de uma crentinha que trabalhava comigo. Isso no
tempo que eu virava bosta em um laboratório de analises clinicas e nem
imaginava escrever nada que não fosse “Cu” em porta de banheiro público. Nessa
época, com grana (pouca), bêbado, novinho e com um pau assanhado eu conseguia
mulher. Numa dessas conversas que eu tinha com a crentinha contando minhas
putarias enquanto ela tentava me converter pra porra da igreja (que eu nunca
entrei) ela falou de uma idiotice qualquer que o pastor rosnou no culto. Eu nem
queria ouvir, mas mesmo assim ela falou.
— “Cada
mulher que um homem tem na vida é como um cravo na sua costela”.
Lembrei-me da frase bêbado e fiquei pensando
nisso a noite inteira. Eu tinha um monte de cravo socado na minha costela. E
tinha um enorme e enferrujado que começava a me dar tétano casado comigo.
Cheguei em casa seis horas depois, mais macho que um pedreiro, cego de álcool,
estufei o peito, olhei praquele cravo odioso (que me chamou de filha da
puta) deitado com a bunda pra cima e pensei:
“Cada um com a sua cruz”.
Deitei, tentei dar uma encaixadinha, tomei um
tapa no saco e dormi.
O velho bêbado incompetente de sempre...
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