O texto intitulado “O criador” — como todos os outros —, não tem por objetivo ofender ou corroborar com
as atrocidades mundanas, nem tem a pretensão de doutrinar alguém ao ateísmo.
Ele limita-se tão somente a suscitar alguns pensamentos que vêm sido propagados
por diferentes meios de comunicação, sobretudo pela internet. Ainda que seja um
bem a liberdade de informação pode custar caro.
Eu era um idiota.
Sei que é um jeito estranho de começar qualquer coisa, mas é o mais
sincero que posso ser. Fui criado do mesmo jeito que você e a maioria dos
homens que desviam da cadeia. Como um porco sedado no chiqueiro torcendo para
que o suinocultor não visse como estava gordinho.
Tudo começou efetivamente a mudar com horas de leitura na internet.
Quanto mais eu lia, mais faminto ficava. Isso hoje m dia pode parecer coisa de
maluco, mas nos anos noventa a internet era uma novidade cara e a informação
conseguida nela — sobretudo em minhas áreas de interesse — valia muito dinheiro
(e não ficava dando sopa por aí, não fora da internet). Por outro lado com toda
manipulação do mundo real era fácil manter mentes como a minha no cabresto.
Conspiração para minha geração era só uma palavra que o exército costumava usar
— acho que eles usavam como usam a palavra “farda”, “medalhas” ou “estupro”,
coisa à toa e idiota. O fato é que eu lia muito do que estava disponível em
papéis e TV e nada mexia muito com minha cabeça. Para mim me arrastar de um
colégio para outro fumando em banheiros era o suficiente.
Meu maior questionamento nesse mundo — acho que desde sempre — foi a
existência do cara que te espia socando uma bronha no banheiro quando você tem
quinze anos. Ele mesmo: Deus. Sempre fiquei com um olho aberto para ele já que
segundo diziam que ele tinha o seu olho “oni-não-sei-o-quê” focado em mim. Deus deve ser um
cara muito ruim eu pensava e quanto mais eu lia pelo mundo livre e virtual,
mais incoerências eu encontrava no suposto criador. Ele para mim não passava de
uma pintura no teto da capela cistina que eu nunca teria dinheiro para ver.
Isso era o que eu achava. Depois de ler muito, muito mesmo (tanto que causou
danos a minha vista pelo ressecamento das córneas), cheguei à conclusão que
esse cara não existia.
“Oh!” você deve ter dito. “Oh!” não cara.
Não é “oh” nem “Ah!”. Ele realmente não está por aí. Posso provar...
Mas antes disso preciso que você veja uma lista de coisas que existem em
desconexão com tudo o que te ensinaram a aceitar. Pensando bem não vou dar isso
pronto. Mas quero que você leia. Anota aí:
1 — China (procure por: atrocidades chinesas).
2 — Procure por um site chamado “o pior de todos” e assista a seus
vídeos.
3 — Procure por Bizarrices no Japão (e depois na Tailândia) — ou
atrocidades, dá na mesma.
4 — Procure por estupros (se tiver tempo procure por mutilações de
guerra)
5 — Continue lendo isso aqui, o que tem abaixo ↓.
2
Agora seu estômago deve estar revirando... Ah esqueci. Procure por:
“Entrevistas com Charles Manson”
Agora além de seu estômago é provável que seu intestino e principalmente
sua cabeça esteja girando em
falso. E creia em que é preciso tudo isso para te preparar
para o que você vai ler a seguir.
Se você seguiu a estrada de tijolos vermelhos acima possivelmente está
confuso e num ponto aonde eu mesmo cheguei anos atrás. É estranho não é? Pensar
que alguém esteja de olhos bem abertos assistindo tudo o que você viu e sendo
adorado pelo planeta todo. Também achei estranho. E mórbido. Pensei que tudo
estava tão errado que me afastei do mundo por um ano para ler mais sobre o
assunto. Deixei a maldade do mundo entrar pela porta da frente. Se você quer mesmo
ter fé em um cara — pode chamá-lo de criador se quiser — (eu uso outro nome
hoje) deve estudar tudo a respeito
dele. Eu não sou do tipo de cara que sai por aí acreditando em qualquer coisa.
Não mesmo. Eu preciso de provas.
E busquei por elas.
Como estava completamente isolado, passando um pouco de fome (afinal
estava desempregado e sem condições de fazer nada por ninguém, principalmente
por mim) e vasculhando o ciberespaço procurando respostas para minha
existência, acabei fazendo amigos. Não exatamente do tipo que se divide uma
“breja”. Chamei-os de “cobaias”.
Isso tudo foi bem antes do faceboot (que tornou tudo um pouco mais
complicado para mim). Acabei me filiando a um site (era mais um chat) de
amigos. Gente que você tropeça na rua ou conversa sem saber quem é o cara por
trás do avatar. Eu usava um pseudônimo na época. Era até engraçado lembrar,
chamavam-me de Jack-Liso. Não me recordo como começou isso, falta de grana
talvez.
Entre idas e vindas esporádicas para o mundo real em igrejas, terreiros,
templos e todo tipo de religião eu mergulhava nos meus estudos. E enquanto isso
os caras do outro lado da internet acabavam comigo criando outro site
exclusivamente para me difamar, ridicularizar e desmoralizar.
“Quem fez isso?” você pergunta.
Meus pseudo-amigos cara, eles e os cobaias. Caras de carne e osso que eu
acreditava quererem o melhor para mim. Lembrei de Deus na hora. Pensei: “Meu, é
assim que você deixa tratarem os caras que estão te buscando?”. Ele nem
respondeu. Óbvio.
A raiva continuou a crescer dentro de mim na mesma proporção que o
criador se consolidava uma invenção humana na minha concepção. Foi um período
estranho. Percebi algumas coisas (factuais) que quero novamente que você tome
nota. Eu chamo de “Causas mortis da divindade”. Segue a lista:
1 — Inveja
2 — Conspiração
3 — Ciúme
4 — Ignorância
5 — Dinheiro
2
Qualquer que seja sua crença se
você tentar atribuir essas características a virem de uma divindade, vai ver
que esse espírito de Luz é um canalha. Eu sentia isso na pele. Acabei me
tornando chacota pública, tratado como polêmico, insatisfeito, ateu, beato e
doido. Foi aí que eu topei o desafio divino (de que todos correm sem perceber)
e encarei meu pior lado Darwiniano. Evolução das espécies sim... Lei do mais
apto, do mais forte.
Sabia que meu velho tinha uma arma. E eu sabia atirar.
Depois de permanecer afastado por quatro anos marquei um almoço na casa
dele e da minha madrasta de trinta anos. Eu tenho quarenta. E cinco. Meu pai,
um ex-policial, tem setenta e quatro e gasta metade do salário com viagra e a
outra metade com KY pra enrabar a mami.
Encurtando a história: fui ate lá, enchi a pança de comida e peguei
emprestada a arma e as duas caixinhas de bala que encontrei. Aquela era a única
arma do velho, mas eu sabia que enquanto a Deby (o nome da mami era Débora, mas
o velho, eu e todo mundo a chamávamos assim) desse o roxinho para ele, não ia
querer ou precisar de uma arma.
Minha proposta para o criador foi a seguinte:
“Se puder me parar, faça. Daqui pra frente eu vou matar todo mundo que me
desagradar, me desprezar, me ridicularizar e dependendo o dia me irritar”.
Foi assim, simples como deve ser. Entendo que o criador que você tanto
crê tenha me ouvido não? Afinal ele ouve tudo, vê tudo e sabe de tudo.
Bem, da casa do velho fui para a casa do primeiro dos caras que andava se
fazendo de espertalhão comigo pelos três “w”. O tal morava sozinho e eu entrei
fácil com a desculpa que precisava falar com ele. Como o camaradinha era falso
pra caralho foi logo me chamando para entrar e pegando uma cerveja. A cozinha
foi o picadeiro do circo do “Pennywise” aqui. Vi uma faca marcando em cima da
pia. Decidi que iria matá-lo feito um porco. Furei sua garganta para que ele
não gritasse feito uma garotinha e esperei que sangrasse até morrer, ele tentou
alguma reação, mas ficava difícil com o esgotamento sanguíneo que jogava sua
pressão a seis. Depois urinei em cima dele e fui para casa. Lembro que olhei
para o alto e pedi para que o seu senhor me provasse que eu estava errado.
Bom... Cadê Deus; hã? Por que o cara não segurou minha mão enquanto eu matava
aquele inocente. Por que não decepou meu pinto enquanto urinava nele?
Acabei concluindo que podia ainda assim haver um Deus, apenas permitindo
que eu matasse um calhorda (que era o caso do cara...).
Acabei matando todos os calhordas. Dezesseis no total. Uns eu conhecia,
outros eram caras que me ignoravam, ou ignoravam meus comentários e ideias
tentando fritar minhas amizades, ou simplesmente gente que me desprezava. Isso
dói pra cacete. Desprezo. E o criador (caso existisse) continuava a fazer isso
comigo. Resolvi matar algumas pessoas boas da igreja em contrapeso. Eu
penso que se Deus existisse cuidaria bem dos caras que vão até a casa deles aos
domingos. Matei mais nove carolas, dois coroinhas e um ministro benevolente que
tinha tido derrame e não controlava o braço esquerdo. Nada veio abalar meu
sono. Consciência? Nem mesmo pesadelos.
“O que me falta fazer pra desafiar esse cara?”, pensei.
Como não sabia a resposta acabei matando uns moleques que perdiam a vida
empinando pipa. Matei meu pai também e a Deby. Fiz sexo com ela. Viva e morta.
E urinei em cima dela toda.
Encarei o tal Deus como pude, cara. Não por maldade, mas para que ele se
revelasse para mim. Lembra daquela lista que eu dei lá em cima? A primeira?
Nessa minha fase rebelde eu fiz pior que o está ali. Muito pior.
Matei padre, freiras, garotas, animais e mendigos por anos. Matei toda a
sociedade da cidadezinha onde morava. Quer saber o que me aconteceu?
Nada.
Ninguém me pegou. Mudei de lá para onde moro hoje sem que nenhuma doença
me afligisse. Num belo dia de chuva eu desisti de ter raiva. Desisti do criador
também. Acabei ganhando muita grana com a internet e hoje ganho mais ainda com
o Faceboot (sempre gostei de sites de relacionamento como te contei). Ficou
muito claro para mim que se esse cara existe, tem medo de alguém como eu e,
portanto, não existe. Depois do experimento mudei meu nome. Chamo-me
Deus. É isso. Mudei meu nome para um dos nomes de Deus. Seria mais justo para
alguém que entendeu o segredo mais bem guardado do mundo feito eu, a mola
mestra, aquilo que impulsiona. Acabei depois de tanta procurar encontrando a
resposta.
O Deus do teu mundo é chamado vingança.
Isso é Deus. E eu sou ele.
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